terça-feira, 22 de setembro de 2009

Filosofia da manhã



O despertador demorou a tocar. A chuva escondida dos últimos dias tinha deixado para cair inteirinha na noite anterior. Feliz do povo aqui embaixo que já não suportava as temperaturas altas até demais para um início de primavera. Tudo ainda estava escuro quando ele abriu os olhos e fixou-os no teto. Fitava bobamente o gesso amarelado quando o alarme soou pela primeira vez. Só mais dez minutos e aquele vento de chuva entrando pela janela. Incrivelmente descritivo e ainda assim subjetivo. Personalidade é algo que ele não podia mudar radicalmente. O jeito era esperar.

Jamais diria não e isso era certeza. Também não pensava no futuro. Só queria saber. Uns poucos anos de vida e a mínima experiência dos bancos da universidade fizeram-no pensar. Sapere aude! Ousa saber. Da teoria acadêmica de Kant até a sabedoria popular: para saber é preciso dar um passo a frente. "Quem não arrisca não petisca". Não mesmo. E talvez a curiosidade chegue a matar. O conhecimento é uma ousadia. Novamente, sapere aude. A ousadia nasce da vontade de saber. Se fosse possível apaziguar todas as vontades, todos nós chegaríamos às mesmas ideias - e aí está a ética ideal. Mas não há como. A vontade, sobretudo a de conhecer, é invencível. E era ele quem estava ali debaixo das cobertas com os olhos fixos no teto: derrotado.

O vento frio continuava entrando pela janela e o despertador já começara a tocar os primeiros acordes de Come on Eileen. Hora de levantar e perseguir os novos e (por que não?) os velhos sonhos. Enfrentar a derrota e fazer valer a pena. Filosofias da manhã.

Um comentário:

Rebeca Penido disse...

Eu digo e repito: Seu blog é perfeito! (sem babação de ovo)